segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Associart: exemplo de que criatividade dá dinheiro

"Só queremos ser reconhecidas como uma associação que contribuiu com o crescimento social, econômico e cultural do nosso município e cidades circunvizinhas."
Grupo de artesãs da Associart (Créditos: arquivo pessoal) 
Quem ainda duvida que criatividade pode gerar dinheiro, precisa conhecer a história de um grupo de artesãs que se organizaram através de uma associação e hoje comemoram autonomia financeira a partir de suas produções criativas.

A Economia Criativa, embora em foco nos últimos tempos, ainda é um tema bastante novo em termos de pesquisas e conceitos. Segundo o autor inglês, John Howkins, no livro “The Creative Economy”, publicado em 2001, “Economia Criativa são atividades nas quais resultam em indivíduos exercitando a sua imaginação e explorando seu valor econômico. Pode ser definida como processos que envolvam criação, produção e distribuição de produtos e serviços, usando o conhecimento, a criatividade e o capital intelectual como principais recursos produtivos”. O artesanato é um dos setores dessa cadeia e é também objeto de nossa investigação nessa matéria.
Grupo de artesãs da Associart (Créditos: arquivo pessoal) 
Fundada em 15 de março de 2010, com o objetivo de promover cursos de capacitação em artesanato, a Associação dos Artistas e Artesão de Santa Maria da Vitória (ASSOCIART), ao longo de mais de três anos de existência, faz um balanço de sua atuação e mostra os méritos de um trabalho em equipe focado no fortalecimento do coletivo. O trabalho surgiu pela negação da valorização, pelo poder público local, aos artesãos que existem e que são muitos. “Em reunião com vários artesãos e artistas nos propomos fundar essa associação que graças a Deus está indo muito bem. Temos o apoio do SENAC (Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial do Brasil) assinamos convênio todos os anos. Com isso temos oportunizado ajudar muita gente”, contribui Regina Borges, atual presidente da associação e nossa entrevistada. 
Grupo de artesãs da Associart (Créditos: arquivo pessoal) 
No Brasil, cerca de 8,5 milhões de pessoas fazem do artesanato o seu pequeno negócio e movimentam mais de R$ 50 bilhões anualmente, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O trabalho artesanal do País é reconhecido internacionalmente pela beleza e acabamento das peças, mas internamente a sua importância é ainda maior. Além de movimentar a economia, recoloca profissionais no mercado e, muitas vezes, o que era hobby se transforma na solução para complementar o salário ou até mesmo se tornar a principal renda de uma família.
Regina Borges, presidente da Associart
(Créditos: arquivo pessoal)
 
Na sequência, podemos acompanhar um pouco do histórico de luta e resistência dessas bravas mulheres que encontram na arte um meio de sobrevivência e fazem disso uma potente ferramenta de inclusão social e valorização do ser humano em sua totalidade. 

Em todos esses anos de existência a Associart tem realizado alguns cursos. Como tem sido a aceitação da sociedade e em quais espaços estão inseridos? 
Olha, graças a Deus, a Associart esta sendo bem aceita, bem vista, uma vez que ano passado fomos contemplados com uma placa de primeiro lugar por ter realizado o maior número de cursos no sudoeste da Bahia. Entre 54 municípios do sudoeste e oeste da Bahia, a Associart foi contemplada por ter oferecido o maior número de cursos. Então observamos aí que as pessoas estão aprendendo a gostar do artesanato, por que existia um mito. Todo mundo tinha vergonha de dizer que era artesão; era um preconceito, porque o artesão era considerado como pessoa que não tinha o que fazer e não davam valor. Hoje não! No Brasil, o artesanato está sendo valorizado e reconhecido nacionalmente e mundialmente. Então, graças a Deus, hoje a gente se sente muito feliz por ter fundando essa associação com a ajuda de vários artistas. 

Quantas e quais são as pessoas compõem a associação? 
Somos 27 pessoas. São funcionários públicos, professores, artesãos. Pessoas que buscam alguma forma de renda. Na verdade, a maioria, por incrível que pareça, são de professores aposentados e funcionários públicos municipais. 

A Associart contribui para o desenvolvimento da região? 
Sim, uma vez que oferecemos curso de capacitação profissionalizante, cursos gratuitos pelo SENAC nas várias áreas do artesanato e também de auxiliar administrativo, costureira, cuidador de idoso, cuidador infantil, atendente de nutrição, manicure, recepcionista. Todos oferecidos gratuitamente. O aluno só tem o trabalho de se inscrever. Além dos cursos, realizamos bimestralmente feira de exposição e venda dos nossos produtos. 

Olhando para o cenário cultural de nossa cidade, onde conseguimos enxergar o dedo da Associart? 
Primeiro, dentro da própria associação. Pessoas que não sabiam fazer nada hoje tem uma visão diferente, porque muita gente achava que o artesanato não era uma forma de cultura. Além de capacitar no artesanato, a gente também capacita nas relações humanas, de como vender, como comprar, como produzir... Então não existe só o manuseio, existe a capacitação social do ser humano para ele interagir no meio em que vive. 

Como é a relação da Associart com os governos, tanto em esfera municipal, quanto estadual e federal. Vocês já receberam algum tipo de recurso? 
Até o momento, o apoio que a gente já teve foi do Ministério da Cultura, quando fomos contemplados pelo projeto de resgate da cidadania através do artesanato, pela FUNARTE (Fundação Nacional das Artes). Já fizemos outros projetos, mas infelizmente não fomos contemplados. No que diz respeito ao governo estadual e municipal, a nossa associação não tem apoio algum. 

Os membros da Associart têm vida cultural e política bastante ativa. Como é para você e como tem contribuído na associação a participação nesses espaços de construção política? 
Nosso sonho é ver nossa cidade galgando vitórias no que diz respeito a cultura. Infelizmente, não temos uma politica de valorização, existem muitos artesãos e artistas, mas não são valorizados. Graças a Deus, existem artesãos que lutam mesmo e artistas que querem ver nossa cidade brilhar lá fora. Mas isso são esforços, primeiramente, deles. Agora, meu sonho é ver a associação que eu participo galgando o apogeu que ela merece. A gente percebe que tem pessoas comprometidas com a cultura, só que, justamente nessa parte que precisamos buscar e discutir, eu sinto muita fraqueza. Luto muito para que haja interação e participação maior de alguns componentes na questão das políticas públicas para a cultura. Mas, os que buscam, que questionam e que lutam são poucos. Você sabe que as pessoas vão, às vezes participam quando são tocadas, não por elas, mas sim por alguém. Eu estou tentando tocar na alma dessas pessoas para que elas acordem e vejam que a cultura é uma coisa muito importante na nossa vida, como é a própria vida. É como algo que a gente bebe. Sem cultura não vamos a lugar nenhum, porque ela é uma parte inerente ao ser humano. Por que na nossa casa nós temos a nossa cultura e a sociedade também tem a sua. 

Qual a maior dificuldade da Associart hoje? 
O que mais tem dificultado nosso trabalho e se torna num empecilho para a gente conseguir novos cursos é a questão material: equipamentos, maquinas, materiais eletrônicos... Faço tudo com o meu computador pessoal. O local é pago por nós, a gente tem um espaço muito pequeno, gostaríamos de ter um espaço maior. O que a gente sente é que não temos esse apoio. Meu sonho também é ter um local permanente, não só para a associação, e sim para que todos os artesãos da cidade possam ter um lugar para divulgar sua arte, sermos reconhecidos e valorizados. O que sinto é só isso, falta de apoio financeiro e recursos de materiais. 

Onde a Associart pretende chegar? 
Só queremos ser reconhecidos como uma associação que contribuiu com o crescimento social, econômico e cultural do nosso município e cidades circunvizinhas. 

Por Culturas Corrente

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