terça-feira, 29 de setembro de 2015

SuspeitoUmDois - A saga do baiano legal: “e não se espante com o baiano que sabe fazer uma rima”

De Correntina para o mundo: Conheça SuspeitoUmDois (S.U.D), grupo de rap se destaca em festival nacional. 
Acervo pessoal.
Transgressão! Transgredir com os paradigmas que são impostos pelo sistema, através da música, foi um dos propósitos da criação do grupo de Rap SuspeitoUmDois (S.U.D), em 2003 na cidade de Correntina – Bahia. Segundo um dos fundadores, compositor e vocalista Binho Sud, em primeiro momento a ideia do grupo surge sem muita pretensão de alavancar uma carreira profissional: “incialmente o grupo surge sem muito pretexto profissional, mas sim com dois únicos interesses, o de diversão e lazer. Pra não sermos vencidos pela fatiga mental de um dia a dia pacato, resolvemos escrever rap e andar de skate”
Acervo pessoal.
Com mais de 10 anos de batalha no campo da música, especificamente no rap, o SuspeitoUmDois vêm se destacando e intervindo em vários meios de comunicação através das suas músicas que a cada dia ganha mais espaço pela ousadia e características fortes de críticas sociais em suas letras: “nossas músicas tem um grande teor de crítica e ironia. Buscamos sempre defender nossas raízes, lembrando sempre que a maior riqueza que alguém pode possuir e defender, é sua origem” Declara o artista Binho Sud que foi entrevistado pelo Culturas Corrente.

Quais as referências no campo do Rap Nacional e em que sentido esses nomes tem influenciado na caminhada do SUD? 
Binho Sud: Somos influenciados muito pela música regional, o forró, o samba e a MPB têm a maior culpa na construção das músicas do S.U.D. Dentro do cenário do rap, agradeço bastante ao rap do DF, o qual abriu minha mente quando eu tinha somente uns 13 anos de idade. Faço referência a grupos como Cirurgia Moral, Dj Jamaika, Alibi, Tropa de Elite, Racionais, Sistema Negro, MV Bill, Facção Central, Sabotage, dentre tantos outros. 

Sabemos que a Bahia é um estado muito propício às diversidades culturais, contudo, o rap ainda é um estilo musical que aparece de forma tímida e com pouca valorização. Como vocês encararam isso para conseguir persistir? 
Binho Sud: Encaramos sempre como um motivo a mais de buscar alcançar o nosso objetivo. Creio que a falta de motivação vem de muitas maneiras, até dentro de cenários que são muito valorizados. Podemos dizer que isso nos gerou muita revolta e desânimo, mas foi o que nos ajudou a ficar firmes e fortes, com um Rap contundente e criativo, numa terra onde a predominância musical é outra.

Na música “Baiano Legal” você faz uma crítica com relação ao preconceito existente com os baianos que vão “tentar a vida” nas grandes metrópoles do País. O que você tem a dizer sobre esses preconceitos existentes em um país multicultural como o Brasil? 
Binho Sud: Infelizmente o preconceito em relação aos nordestinos e nortistas existe, e de formas cruéis. Muitas vezes o opressor não se acha o carrasco e sim o comediante. A cidade de São Paulo assim como nosso país, sobrevive da mistura de povos, e a migração fez de São Paulo o que ela é hoje, em questões sociais, culturais e econômicas. Na música “Baiano Legal” relatamos o baiano como o cara que mais trabalha na grande cidade, que é o cara que prospera por não negar o serviço e na maioria das vezes é o cara que menos reclama, como diz o trecho: “Eu vejo uma pá reclamando e fritando hambúrguer pra boy, forjando a própria falência e cê tem certeza que é nóis?”

Recentemente vocês participaram do Programa da TV Cultura, “Manos e Minas”. Você considera essa participação importante para a divulgação do trabalho do S.U.D? 
Binho Sud: A importância do Programa Manos e Minas para a cultura hip hop é gigantesca. Nós já almejávamos conseguir ir ao ar pelo programa desde que estávamos em Salvador e para nós foi uma grande satisfação poder fazer parte do programa, pela aceitação, tanto da audiência como também pela recepção da produção do programa. Só agradecimento. 

Sobre a participação do S.U.D no AudioGroove Festival, considerado como um evento com marco importante na história do Hip Hop no Brasil, como tem sido essa experiência? 
Binho Sud: A notícia de que nossa música foi selecionada entre outras tantas músicas do cenário nacional, foi recebida com muita alegria, pois estamos trabalhando pra isso, plantando e trabalhando na música boa pra colher mais lá na frente, e a época da colheita tá chegando. 

“Baiano Legal” foi a música escolhida por vocês para concorrer no AudioGroove Festival. Qual foi o motivo dessa escolha? 
Binho Sud: A proposta do Festival é buscar uma nova voz que seja representante da música rap sem perder as origens, e nesta proposta vimos que a música “Baiano Legal” é a que mais se encaixa, por sua luta, por sua contundência classista e militante, que é o que relata a canção. 

Pra galera acompanhar o trabalho do S.U.D, onde encontrar mais informações?
Binho Sud: Nossos trabalhos estão expostos em vários locais pela internet, a exemplo do Youtube, Soundcloud, Palcomp3. É só buscar por Suspeito UmDois, com certeza irá achar algum trabalho do grupo, recente ou antigo. 

O que você tem a dizer pra galera que acompanha o trabalho do S.U.D e que de alguma forma também “tá no corre” do dia a dia pra conseguir se inserir no meio cultural , seja através da música, dança, teatro, poesia... 
Binho Sud: Eu acredito muito na força de uma mensagem dita nos anos 90 por Tupac Amaru Shakur, onde ele diz:“Ou você evolui ou desaparece”. Busque sempre conhecimento, o alimento da alma é a consciência, a cada livro se torne livre, a cada música se inspire conforme quiser, é isso que faz a diferença pra nosso trampo.

Por Vanderleia Barbosa

segunda-feira, 28 de setembro de 2015

Em noite de super lua Espaço Cultural Oca realiza sarau regado a poesias, músicas e caruru

O sarau teve palco aberto e contou com a participação de músicos e recitadores de várias cidades da região além de público contagiante.
Ana Helena e Cleudir Neves em apresentação (Acervo Culturas Corrente)
A super lua ocorrida no último sábado 26 de setembro serviu de cenário para o primeiro Sarau da Oca, embora novo, o Espaço Cultural Oca se firma como um importante equipamento a serviço da cultura e das artes. Instalado no município de Santa Marida da Vitória e com atuação de forma a contemplar todo o Território da Bacia do Rio Corrente se tornou num ponto de convergência para artistas, entusiastas, apreciadores e críticos.
Apresentação de Iremar Barbosa e Tezinho do Acordeon (Acervo Culturas Corrente)
E, se no céu o espetáculo era a lua, no palco o show musical ficou por conta de músicos da patente de Ana Helena Mallero, Cleber Eduão, Cleudir Neves, Fabiano Ferreira, Iremar Barbosa, Moacir Ferreira e Tezinho do Acordeon. As poesias ficaram a cargo de Ana Helena Mallero, Benilson Ataíde, Fabiano Ferreira, Mazzo Rodrigues, Paulo Alberto e Washington Andrade. 
Ana Maria do Acarajé preparando o caruru (Acervo Culturas Corrente)
O sarau contou ainda com um aperitivo especial, caruru carinhosamente preparado pela baiana Ana Maria do Acarajé, figura ilustre que assume importante papel na preservação das religiões de matrizes africanas aqui na região.
Fabiano Ferreira e Cleber Eduão em apresentação (Acervo Culturas Corrente)
“O sarau foi uma realização de muitas mãos. Sinto-me muito feliz de poder ter dado minha contribuição para o espaço Oca e também para o trabalho que já vem sendo desenvolvido pela galera de lá”, avalia Paulo Alberto, um dos idealizadores.
Parte do público presente no sarau (Acervo Culturas Corrente)
Esse evento é, segundo os gestores do espaço, somente a primeira edição de muitos outros já esperados pelo público que pode apreciar um repertório musical e diverso de muita qualidade.

Para acessar o album de fotos CLIQUE AQUI!

Por Robson Vieira 

sexta-feira, 18 de setembro de 2015

Coletivo Culturas Corrente lança ciclo de debates sobre cultura em Santa Maria da Vitória

Em parceria com entidades culturais, o primeiro encontro do Ciclo de Debates aconteceu no Espaço Cultural Oca.
Créditos: arquivo Culturas Corrente
O Coletivo Culturas Corrente, desde o seu surgimento, assumiu o compromisso de realizar formação contribuindo assim com o empoderamento de sujeitos envolvidos com a cultura no conhecimento e operacionalização das leis e regras que regem esse complexo campo. Desde então, vem realizando importantes ações de produção, registro e divulgação das artes e culturas no Território da Bacia do Rio Corrente, além de promover formação para interessados nos estudos sobre políticas culturais. 
Créditos: arquivo Culturas Corrente
Com o tema “Políticas públicas da cultura e Administração participativa”, a última ação efetiva do coletivo ocorreu nesta quinta-feira, 17 de setembro, no Espaço Cultural Oca, em Santa Maria da Vitória, com o lançamento do Ciclo de Debates Sobre Cultura que vem sendo realizado de forma articulada com instituições comprometidas com o desenvolvimento cultural da região, a exemplo da APLB Sindicato, Associart, Biblioteca Rosa Oliveira Magalhaes, Casa Mallero, Discentes da UFOB e Espaço Cultural OCA. 
Créditos: arquivo Culturas Corrente
O Ciclo, inicialmente formatado em dez encontros, acontecerá sempre às quintas-feiras de cada semana, será alternado entre as cidades de Santa Maria da Vitória e São Félix do Coribe, sendo cada encontro realizado num ambiente cultural diferente que esteja, de alguma maneira, discutindo e fomentando a cultua local. O evento conta com a contribuição de pessoas que pesquisam as temáticas em debates.

Robson Vieira, estudante, ativista cultural e idealizador do projeto afirma que a necessidade do conhecimento contribui para o surgimento desses encontros. “Não acredito em outra forma de contribuir com a emancipação dessas pessoas envolvidas com os fazeres culturais e artísticos, se não provocando nelas a necessidade de conhecer os mecanismos que envolvem a gestão cultural. Tão necessários como a fluidez das linguagens é o conhecimento desse arcabouço para que o artista não se torne em um ser refém”, contribui. E continua, “o estudo das políticas culturais é mais amplo do que conseguimos imaginar e essa ação que estamos realizando é uma forma dinâmica de estudo coletivo que integra pessoas, considerando os vários níveis de conhecimento. Com essa metodologia, atingimos do mais letrado ao menos instruído. Nosso evento é aberto a todos que estejam comprometidos, assim como nós, com o envolvimento cultural da nossa região. Se os gestores são omissos e sem compromisso, assumimos nós a responsabilidade pelo fomento das políticas culturais em nossas cidades”.

O evento continua nas próximas semanas. É gratuito e aberto para ativistas, pesquisadores, discentes, professores, artistas e demais pessoas que tenham interesse em conversar sobre culturas.

Por Culturas Corrente

terça-feira, 15 de setembro de 2015

Participe do ciclo de debates sobre cultura realizado pelo Coletivo Culturas Corrente

CICLO DE ESTUDOS SOBRE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA DA CULTURA

TEMA 1º ENCONTRO: Políticas públicas da cultura e Administração participativa.
FACILITADOR CONVIDADO: Robson Vieira (estudante de Ciências Sociais – Políticas Públicas pela Universidade Federal de Goiás (UFG))

Onde vai ser: Espaço Cultural OCA
Que horas será: 19:30h
Que dia começa: 17/09 (quinta-feira)
Cadastro no seguinte link: CLIQUE AQUI

O que é isso: O CICLO DE ESTUDOS SOBRE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA DA CULTURA é uma realização do COLETIVO CULTURAS CORRENTE e conta com o apoio de outras instituições culturais que se preocupam com o empoderamento dos/as diversos/as fazedores/as de arte e cultura.

Serão realizados encontros semanais em diversos espaços culturais espalhados pelas cidades de Santa Maria da Vitória e São Félix do Coribe. Os encontros terão temas específicos e vão ser facilitados por pessoas que estudam o assunto a ser debatido.

São convidados a participar pessoas que de alguma forma estejam envolvidas com os saberes e fazeres artísticos e culturais (atores, atrizes, escritores/as, músicos, dançarinos/as, produtores/as, artesãos e artesãs, artistas plásticos...) e bem como demais interessados no tema (docentes, discentes, pesquisadores...).

Cremos que tão importante quanto o fazer é o saber como e por que fazer.

Acreditamos também que o conhecimento seja capaz de produzir revoluções culturais!

Venham todos/as!

Inscreva-se da Oficina de Iniciação Teatral e Contato com Cena

OFICINA DE INICIAÇÃO TEATRAL E CONTATO COM A CENA

Venha participar do curso de extensão com certificado expedido pela Universidade Federal do Oeste da Bahia (UFOB) a ser ministrado por Robson Vieira, formado em Teatro pela Universidade de Brasília (UnB). Inicio dia 21 de setembro (segunda-feira), predominantemente no período noturno (19:30h) e duração de 3 semanas.

VAGAS GRATUITAS E LIMITADAS (20 VAGAS).

O quê: Oficina de iniciação teatral e contato com a cena
Quando: 21/09
Onde: Campus Multidisciplinar de Santa Maria da Vitória
Horário: 19:30h
Inscreva-se CLICANDO AQUI.

sábado, 12 de setembro de 2015

II Romaria do Cerrado reúne mais de duas mil pessoas em Correntina

Com público estimado em duas mil pessoas a II Romaria do Cerrado encerra intensa semana de atividades em Correntina no Oeste da Bahia.
Foto por Robson Vieira
Com o tema "Cerrado em pé: a vida brota das águas" a Semana do Cerrado, ocorrida de 07 a 11 de setembro de 2015, foi de intensas atividades em Correntina. De iniciativa das comunidades, entidades, organizações e movimentos sociais que atuam na região, o evento contou com a participação de representantes de comunidades geraiseiras, fundos e fechos de pasto, quilombolas, estudantes, professores, agentes pastorais, sindicalistas, gestores públicos, vereadores, militantes socioambientais do campo e da cidade, de entidades e movimentos populares, do Oeste Baiano e de outras regiões.
Foto por Robson Vieira
Como parte da programação o IV Seminário do Cerrado aconteceu durante os dias 10 e 11 no Centro de Treinamento de Lideres (CTL) e contou com a presença de 82 pessoas, de 21 entidades que participaram de palestras e debates. Na ocasião as comunidades puderam apresentar suas realidades considerando os grandes projetos investidos no oeste da Bahia, resultando num gigantesco ecocídio. 
Foto por Robson Vieira
Dentro da metodologia do Seminário foi realizada visita de campo a comunidade do Salto onde todos puderam conhecer nascentes que secaram ao longo das últimas décadas e também presenciar o exemplo de luta que aquela comunidade representa. “Fico muito feliz com a escolha dessa comunidade para visita, pois aqui vocês podem ver a nossa luta para defender nossas águas. E nós vamos continuar lutando até o fim. Pelo Cerrado damos nossas vidas”, diz Nego do Salto, lavrador e defensor do Cerrado.
Foto por Robson Vieira
No dia 11, Dia Nacional do Cerrado Brasileiro, aconteceu a II Romaria do Cerrado que contou com a presença de cerca de 2.000 pessoas de 24 municípios e percorreu as ruas de Correntina levando reflexões, faixas e palavras de ordem alertando para a necessidade de tomadas de consciência convidando a população para um pacto de defesa e envolvimento com o Cerrado. 
Foto por Robson Vieira
No percurso foram realizadas paradas nas quais foram lembradas a importância da agricultura familiar como modelo exemplar de respeito e convivência harmoniosa entre ser humano e natureza, sendo responsável pela manutenção do alimento na mesa do brasileiro, exatamente, ao contrário do que faz o agronegócio. Foi também realizada mística rememorando os mártires Eugênio Lyra, Zeca de Rosa e Isaias Cândido, que tombaram lutando em defesa do Cerrado.
Foto por Robson Vieira
Na sequência, nas águas do Rio Correntina, que corta a cidade, foi realizada outra parada onde foi feita analise análise do rio que está com sua vazão visivelmente comprometida. Os participantes chegaram a atravessá-lo caminhando haja visto agravamento do processo de assoreamento. 
Foto por Robson Vieira
O momento final da romaria aconteceu dentro da Igreja Nossa Senhora da Glória, no centro da cidade, onde foi anunciado o município de Canápolis como sede da próxima Semana do Cerrado no ano de 2016.
Foto por Robson Vieira
Na ocasião foi lida a CARTA DE CORRENTINA, documento gerado por realização da Semana do Cerrado, que trata de denúncia e compromissos em defesa do ecossistema. “Em menos de 50 anos, o avanço do agronegócio nos Cerrados, em especial no Oeste Baiano, consumiu cerca de metade do que a natureza gastou milhões de anos para criar e existia há 65 milhões de anos! É sombrio e angustiante constatar a destruição do bioma mais antigo, central no Brasil, decisivo para a existência dos outros biomas que no conjunto fazem a riqueza natural única e um dos diferenciais deste País. Nossa última esperança era que a crise hídrica atual, pela primeira vez generalizada em todas as regiões, e as mudanças climáticas globais nos levassem a cessar a destruição do Cerrado, berço de nossas águas e de toda vida. Mas não é o que esta Semana do Cerrado nos revelou!”, consta no fragmento do documento.
Foto por Robson Vieira
A realização da Semana do Cerrado se consagra como símbolo de luta e defesa do mais antigo bioma brasileiro. 

Por Robson Vieira

terça-feira, 8 de setembro de 2015

Semana do Cerrado será celebrada com seminário e romaria em Correntina

Seminário será realizado no CTL- Centro de Treinamento de Líderes. O evento objetiva chamar a atenção para necessidade de preservação da fauna e flora que sofre com o processo de exploração.

“O Cerrado está extinto e isso leva ao fim dos rios e dos reservatórios de água”, diz Altair Sales, um dos maiores conhecedores do bioma Cerrado.
Verdadeira caixa d’água instalada no coração do país, o Cerrado, está com seu futuro comprometido. Segundo dados do IBAMA (Instituto Brasileiro de Meio Ambiente) e Ministério do Meio Ambiente, houve, nas últimas décadas, uma redução de mais de 50% de sua área original. Fruto de modelo de expansão predatório e danoso, a exemplo da exploração agrícola e monocultura em larga escala, práticas que deixam rastros de destruição visível a olho nu. 

Só na região oeste da Bahia, onde há predominância do ecossistema cerrado, muitos rios e cursos d’águas secaram e os existentes vem notadamente diminuindo sua vazante, o que é motivo de preocupação, pois são sinais sutis para urgente necessidade de preservação.

Alguns especialistas afirmam que o bioma pode desaparecer em 50 anos caso ações de compromisso e respeito não sejam postas em práticas. Já o professor, antropólogo e arqueólogo correntinense, Altair Sales, um dos maiores conhecedores do bioma cerrado, é catedrático ao afirmar que “o Cerrado está extinto e isso leva ao fim dos rios e dos reservatórios de água”

O Cerrado é como uma espécie de floresta invertida. Enquanto as árvores amazônicas têm copas enormes e raízes pequenas, no centro do Brasil as árvores são menores, mas com raízes muito grandes. Elas funcionam como uma esponja, captando água e a distribuindo por toda região. Significa que destruir essas árvores é comprometer a vida de todo o planeta, pois a natureza trabalha em rede.

Neste 11 de setembro, Dia do Cerrado Brasileiro, mesmo tendo pouco o que comemorar, por iniciativa das comunidades, entidades, organizações e movimentos sociais que atuam na região, estará acontecendo em Correntina a 2ª Semana do Cerrado com realização de Seminário para debater o tema e, também, a 2ª Romaria do Cerrado. 

Para saber um pouco mais dessas ações, entrevistamos a professora, comunicadora e militante Anailma Meira, que apresenta para nós essas importantes ações. 

CULTURAS CORRENTE: Em que contexto surge a romaria e o seminário do cerrado?
ANAILMA MEIRA: Num contexto de grito, clamor da natureza e de seu povo. Vivemos um momento onde nosso bioma cerrado ecoa por todos os cantos, dando sinal de alerta, pois sua biodiversidade está prestes a extinguir. Os grandes impactos ambientais vem criando uma situação irreversível. O modelo regional baseado no agronegócio fez com que nos últimos 10 anos o oeste da Bahia se tornasse um dos maiores produtores de grãos do país à custa da derrubada de milhares de arvores e da extinção de vários cursos d’água. Surge também no momento de muitas esperanças, pois o povo sente o clamor da natureza porque se mistura com ela em seu dia a dia, se espalham e se juntam ao mesmo tempo em pequenos grupos que, como aranha, vão formando uma teia na proteção e defesa deste vasto território de riquezas e fragilidades. Ao som das águas, recebem energia, harmonizam-se e vão prosseguindo o caminho para defender a terra, a água e o direito. Não temos dúvida na força das águas em nossas vidas; é ela, não outra, que nos convoca a sair de nosso mundinho e ir para luta. 

CULTURAS CORRENTE: De quem é a iniciativa desse evento?
ANAILMA MEIRA: A iniciativa desta experiência parte das comunidades, entidades, organizações e movimentos sociais que atuam na região, são todas as forças vivas que vem enfrentando e se fortalecendo na luta. São envolvidos diretamente na organização desta semana: A Comissão Pastoral da Terra-CPT, Agencia de 10esenvolvimento, os sindicatos rurais do Território, Sinditec, Acefarca/EFAPA, associações das comunidades tradicionais fundo e fecho de Pasto, MAB, lideranças comunitárias, ambientalistas, romeiros e romeiras da terra e das águas.

CULTURAS CORRENTE: Qual o objetivo desse evento?
ANAILMA MEIRA: Dar “voz e vez” e “fazer ecoar” o “clamor” do Cerrado e do seu povo. Despertar todas as camadas da sociedade para o enfrentamento da luta. Celebrar o dia do Cerrado e também o fortalecimento das organizações existentes e despertando para criação de novas com o mesmo objetivo: Defender o cerrado em pé.

CULTURAS CORRENTE: Por que a escolha do município de Correntina para essa segunda edição da semana do cerrado?
ANAILMA MEIRA: Por ser um dos municípios que vem vivenciando intensos conflitos socioambientais que envolvem grilagens de terras, pistolagem, destruição do cerrado e, também, pela organização e resistência que precisam ser fortalecidas junto às demais comunidades que vêm enfrentamento o mesmo problema. Por parte dos movimentos sociais de Correntina é um desejo de muitos anos e que este ano se concretiza.

CULTURAS CORRENTE: Como esse evento contribui com o aprofundamento sobre o processo de degradação do cerrado?
ANAILMA MEIRA: Para obter um bom diagnostico da realidade, é preciso ter vivência, pés firmes e fincados na luta cotidiana, capacidade de analisar todos os fatos que vem ocorrendo, aprofundamento de conhecimentos elaborados por estudiosos, comunidades cientificas e pelo povo; e tudo isto está previsto acontecer. Não temos dúvida da grande contribuição deste evento, não somente para levantamento de dados, mas de fortalecimento das iniciativas que já vem sendo conduzidas para que possa consolidar grande projeto popular, de soberania, de defesa do cerrado, da garantia da água em seus mananciais, da vida do povo geraseiro, de todas essas organizações geradoras de vida em nossa região. 

CULTURAS CORRENTE: É um evento ligado a alguma religião?
ANAILMA MEIRA: Não. Evento de pessoas, cidadãos, cidadãs, que lutam pela vida... Aberto para todas as religiões, pois entendemos que a defesa da vida não se limita as quatro paredes de uma Igreja. Reconhecemos o grande papel das igrejas que se comprometem com esta luta. O Papa Francisco vem alertando-nos da responsabilidade que devemos ter com a “nossa casa comum”. Este testemunho ajuda a nos fortalecer e reconhecer nosso papel como uma verdadeira comunidade cristã, que bebe da palavra de Deus e luta pela vida ao mesmo tempo.

CULTURAS CORRENTE: A que público se destina?
ANAILMA MEIRA: Por se tratar de um espaço limitado, este evento terá a participação de 100 a 120 pessoas; as vagas foram distribuídas por municípios: lideranças dos diversos grupos, estudantes, organizações, entidades, instituições, órgãos ambientais presentes na região. Entre estes, destacamos as comunidades tradicionais que estão na luta pela defesa e reconhecimentos de seus territórios.

CULTURAS CORRENTE: Qual o contexto político dessa ação?
ANAILMA MEIRA: Vivemos o caos. Os dados são alarmantes, visto o ritmo acelerado com que licenciamentos para desmatamentos e outorgas para retirada da água estão se dando no oeste baiano. Os territórios das comunidades tradicionais são invadidos pelas grandes empresas que acham que podem tudo. A inclusão desta região em uma nova região geográfica brasileira, criada a partir dos interesses da expansão das fronteiras agrícolas. Para o povo que vive e depende do cerrado, este será o “assalto final” contra as áreas ainda preservadas, que também são as áreas produtoras de água mantenedora da vida. Será um momento de dizer um NÃO, a tudo que destrói a vida, e um SIM ao Cerrado pé pois dele brotam as águas que geram a vida. 

CULTURAS CORRENTE: Fale um pouco sobre o seminário.
ANAILMA MEIRA: O seminário acontecerá nos dias 09 e 10 de Setembro, no Centro de Treinamento de Líderes (CTL), na cidade de Correntina. Serão dois dias intensos de estudo, aprofundamento, partilha de experiências, da comida, da alegria, do compromisso, do bom papo, da música de qualidade, de vivência no cerrado, do conhecimento de seus agravantes, suas riquezas e as alternativas de sobrevivência. Será um momento de fortalecimento de nossa cultura, destacando a chulas como uma das grandes manifestações culturais de grande riqueza para nosso povo. Este seminário será dedicado a dois grandes personagens que vivem em outra dimensão, mas deixaram grandes contribuições para o nosso povo do cerrado, suas organizações, instituições educacionais e o povo em geral: o professor Avelino de Miranda, autor de vários livros que tratam a realidade do Cerrado do oeste baiano, e o Mestre Salú, natural da comunidade do Tatu, deixando como herança muita riqueza cultural, entre tantas destaca-se a chula.

CULTURAS CORRENTE: Qual a expectativa em relação à romaria?
ANAILMA MEIRA: Expectativas de alegria, responsabilidade, de desafio para Correntina que tornará o palco e a sede dos clamores do povo pelo gerais em pé. Acreditamos que esta romaria fará uma grande diferença na vida de todos aqueles que reservarem seu tempo para estarem conosco neste dia de celebração, caminhada, contemplação e compromisso. Este evento de manifestação pública será uma oportunidade de pautar para a sociedade a luta que deve ser acampada por todos os que bebem água, por isso acreditamos que as ruas de Correntina neste dia terá um colorido especial, crianças, jovens e adultos num mesmo passo, mesmo objetivo, numa mesma voz. A expectativa é que haja adesão e participação de várias camadas da sociedade, numericamente não teria ainda condição de prevê, mas a certeza de que aqueles e aquelas que virão é por que querem entrar e fortalecer esta luta tão nobre e justa. 

CULTURAS CORRENTE: Quem está convidado a participar?
ANAILMA MEIRA: Todas as comunidades, denominações religiosas, grupos, instituições educacionais, ambientais, a população em geral, pessoas sensíveis a esta luta. Todos, aqueles e aquelas que bebem água, que ao atravessar o rio que vem secando, uma vereda, um córrego, rego que já secou, uma fonte que virou torrão, que sente um pontada no peito como um nó engasgado em nossa garganta... A todos que tem vontade de entrar na luta pelo cerrado mais não sabe por onde começar. A todos aqueles e aquelas que indignam com tanta injustiça.

CULTURAS CORRENTE: Que tal reforçar convite para participação?
ANAILMA MEIRA: A 2ª Romaria do Cerrado acontecerá na cidade de Correntina no dia do Cerrado 11 de Setembro, sexta-feira, a partir das 08h (manhã). Estaremos concentrando no Ginásio de Esportes, ao lado do Vadozão. Venha, traga seu chapéu, bandeira, cartaz, garrafa de água ou caneca, a farofa para grande partilha no final da romaria. Traga todo seu entusiasmo, sua alegria e coragem para caminhar e nos fortalecer como pessoas de bem, que acreditam e lutam por uma sociedade do bem viver. 

Por Robson Vieira

sexta-feira, 4 de setembro de 2015

Pé no Gerais: esporte de aventura e consciência ambiental em sintonia com a natureza

O Oeste da Bahia, importante região do cerrado brasileiro, é habitado por um povo hospitaleiro e cidades encantadoras, cada uma com suas belezas e atrações singulares. 
Créditos: acervo Pé no Gerais.

Conhecida como a cidade das águas, banhada por diversos rios e portadora de belezas naturais encantadoras, como um arquipélago natural instalado em sua área urbana, Correntina se destaca pelo potencial turístico e principalmente pela receptividade que o visitante encontra, o que lhe rendeu o título de cidade carícia. 
Créditos: acervo Pé no Gerais.
É nesse cenário que, há mais de dois anos, a partir de um grupo de amigos surge a Associação Correntinense de Turismo de Aventura chamada PÉ NO GERAIS que vem desenvolvendo um trabalho de excelência, contribuindo com importante legado de convivência harmoniosa entre ser humano e natureza. 
Créditos: acervo Pé no Gerais.
“Nós que iniciamos esse projeto, somos movidos pela adrenalina, a gente não consegue ficar parado. Quanto ao Pé No Gerais... Temos um playground natural no quintal de nossa casa, a gente sabe a importância que nossos recursos naturais tem para cidade e toda região, então o respeito é primordial, a gente tenta passar isso pra todos os que participam de alguma forma das atividades e também para os turistas que chegam na cidade em busca de aventura”, corrobora Michael Delgado, esportista, educador físico e um dos fundadores do projeto.
Créditos: acervo Pé no Gerais.
O projeto PÉ NO GERAIS tem assumido protagonismo na defesa do cerrado, contribuindo na geração de consciência ambiental coletiva. Assume como objetivo, desenvolver o segmento turístico na cidade de Correntina, tornando a região destino de referência, além de realizar e organizar eventos esportivos com a finalidade de mobilizar atletas e sociedade para questões importantes através não só da prática esportiva, como também de atividades paralelas de interação e conscientização.
Créditos: acervo Pé no Gerais.
A seguir você pode conferir entrevista concedida por Tales Souza, publicitário e esportista, um dos principais idealizadores do projeto.
Créditos: acervo Pé no Gerais.
CULTURAS CORRENTE: De que forma o projeto PÉ NO GERAIS contribui para uma convivência harmoniosa entre "exploração" e preservação?
TALES SOUZA: Essa palavra é pesada, não é? "exploração". Parece até que não dá pra fazer disso uma coisa boa, positiva e benéfica. Esse é um dos nossos grandes desafios, utilizar os recursos naturais da nossa cidade de forma sustentável. Vemos os esportes radicais e o turismo de aventura como alternativas pra isso. A presença dos esportistas e turistas inibe a ação predatória de caçadores e pescadores e também amplia a compreensão da relação homem x natureza, com isso altera positivamente o comportamento daqueles que não são praticantes dos esportes de natureza, mas que passam a conhecer tal prática e com isso proliferar a conscientização da necessidade de preservar os recursos naturais e também o patrimônio histórico e natural. 
Créditos: acervo Pé no Gerais.
CULTURAS CORRENTE: Quais os benefícios diretos da associação PÉ NO GERAIS para o desenvolvimento sustentável de Correntina e região?
TALES SOUZA: Trabalhar a experiência de um turismo não predatório e que respeita a natureza faz gerar emprego e renda na comunidade ao tempo em que aumenta a conscientização ambiental e o respeito pela fauna e flora. Contribui com melhoria da infraestrutura do local onde há prática esportiva e também colabora para alocação de um considerável número de profissionais da área de esportes. Aproveitamos a prática esportiva para alertar sobre a degradação ambiental. Dentre outros tantos, são esses os benefícios.
Créditos: acervo Pé no Gerais.
CULTURAS CORRENTE: Quais as pretensões da associação PÉ NO GERAIS?
TALES SOUZA: Nossas pretensões vão bem além de ser só um grupo de amigos que praticam esportes radicais, a gente se organizou, hoje somos a Associação Correntinense de Turismo de Aventura, plantamos a semente do turismo de aventura na cidade, estamos inserindo a cidade e seus picos radicais na mídia, já fizemos entrevista pro programa Mosaico Rede Bahia, temos matéria publicada no site do GShow, participamos de programa de rádio em Brasília, temos uma página bem movimentada no face e por aí vai. É trabalho de médio e longo prazo, nossa associação visa dá suporte não só para o turista, mas também para o comercio local, para que possam proporcionar as melhores experiências pra quem chega em busca de aventura. Poderia falar o dia todo sobre os benefícios que o PÉ NO GERAIS trará para a cidade, através dos esportes radicais e turismo de aventura. Desculpa se me alonguei, mas isso empolga demais.
Créditos: acervo Pé no Gerais.
CULTURAS CORRENTE: O que podemos esperar de ações para as próximas temporadas?
Vem muita coisa por aí, muita novidade, projetos socioambientais, cursos, palestras, treinamento e por aí vai, Correntina não será a mesma, pode deixar com a gente.
Créditos: acervo Pé no Gerais.
Quer conhecer mais sobre o projeto Pé nos Gerais? Acesse os seguintes canais:

Por Robson Vieira