quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

Bloco “Zé Pereira”: resgate e tradição de um carnaval popular

Há mais de 13 anos o bloco "Zé Pereira" vem realizando o maior carnaval popular de Santa Maria da Vitória

Carnaval é uma das maiores festas populares do planeta e no Brasil se encontra em vários regiões, principalmente do nordeste e sudoeste, mas é na Bahia que recebe o axé se tornando a festa mais popular do estado movimentando aspectos culturais e econômicos.
Foto por Rosa Tunes
Nessa grande festa surgem os famosos blocos que historicamente tinham por objetivo agrupar pessoas que desfilavam no carnaval de forma organizada trajadas de fantasias e embaladas ao som de marchinhas eletrizantes. A alegria era completa e as cordas não segregavam classes sociais.
Foto por Rosa Tunes
O bloco do “Zé Pereira” é o mais antigo que se tem notícias no carnaval de Santa Maria da Vitória, depois deles outros existiram e até mesmo ele se reinventou, mas não é uma expressão própria da região. Em nossa cidade iniciou-se através de charangas composta por músicos da extinta filarmônica “Lira da Vitória” e da centenária “ 6 de Outubro”, mas perdeu-se com tempo. Em 2004 foi resgatada através de um grupo de jovens músicos e foliões orientado por Jailton Souza e Nayark Pereira (professor de percussão), contando com equipe de coordenação Suely Melo, Fabrício Santos e Marcelo Pereira.
Foto por Rosa Tunes
Segundo pesquisas, o “Zé Pereira” surge no Brasil por volta de 1850 quando um sapateiro português reunindo amigos agitou as ruas do Rio de Janeiro tocando tambores saudando a primeira hora do carnaval, daí porque a primeira saída é na noite de véspera do carnaval. A manifestação influenciou outros e logo se popularizou.
Foto por Rosa Tunes
Nos últimos anos são cerca de 2500 a 3000 pessoas de várias idades que acompanham a folia ocorrida pelas ruas e bairros da cidade. Esse marco histórico é fruto do talento de músicos dedicados a preservação de uma cultura centenária repleta de valores simbólicos.
Foto por Rosa Tunes
No que compete a formação dos músicos Jailton Souza avalia que um projeto como esse visa “a valorização da profissão do músico, pois tem se tornado uma das principais batalhas travadas uma vez que muitos sobrevivem com e do exercício da música não só como fator de transformação social, mas também como componente da identidade cultural. A cada ano contamos como o apoio do próprio povo para fomentar essa manifestação que a todos seduz e alegra. Assumimos o compromisso de contribuir com a manutenção desse festejo carnavalesco cientes de que os foliões nos aguardam para mais um ano de diversão sadia e sem discriminação”.
Foto por Rosa Tunes
Leia abaixo entrevista com Jailton Souza (educador musical e mestre de banda) vamos conhecer um pouco dessa tradicional manifestação cultural presente em nossa cidade.

Culturas Corrente: Como o bloco sobreviveu nesses 13 anos?
Jailton Souza: Com a dedicação dos músicos buscando resgatar e preservar valores simbólicos da tradições do carnaval de rua – repertório de marchinhas frevos e sambas de épocas de ouro da música brasileira.

Culturas Corrente: De que forma vocês conseguem financiamentos para o projeto do bloco e quem são esses financiadores?
Jailton Souza: Através da busca por apoio e patrocínio de comerciantes e entusiastas da cultura local convertidos a um abadá simbólico vendido para ampliar os recursos e, consequentemente, custear as despesas.

Culturas Corrente: Se a proposta do bloco é ser um carnaval popular porque a existência do abadá?
Jailton Souza: A venda dos abadás partiu da orientação dos próprios foliões percebendo a necessidade de recursos. Mas a iniciativa não é excludente, toda a população é bem-vinda a curtir a folia carnavalesca.

Culturas Corrente: Onde e como comprar?
Jailton Souza: Podem ser adquiridos com os representantes, a coordenação e os músicos da orquestra.

Culturas Corrente: De que forma vocês acreditam que estão contribuindo com o desenvolvimento cultural da região?
Jailton Souza: Num clima de alegria e reencontros proporcionamos momentos de festividade coletiva envolvendo público de diferentes gerações entorno a preservação da memória cultural uma manifestação centenária. 

Culturas Corrente: O “Zé Pereira” contribui com o ‘resgate’ da cultura carnavalesca?
Culturas Corrente: Sim, há uma nítida contribuição quanto aos estilos musicais apresentado. As obras atravessaram gerações com canções que fazem parte da trajetória da música popular brasileira.

Culturas Corrente: Quem são os músicos que participam? E qual a relação da Sociedade Lira do Corrente com o bloco?
Jailton Souza: A reunião de músicos de formados no “Projeto Meninos do Corrente, da Sociedade Filarmônica Lira do Corrente, culminou no surgimento Orquestra Popular do Vale do Corrente (OPOVAC) projeto que também conta (ou já contou) com a participação de músicos das cidades vizinhas – Correntina e Bom Jesus da Lapa. A relação dá-se no ano de fundação da Lira do Corrente com primeiro ano de resgate ao bloco “Zé Pereira”. Este ano a OPOVAC está composta pelos seguintes músicos: SAXOFONES: Jailton Souza, Uanderson Gusmão, Ernane Domingues, Marcelo Pereira, Rogério Alvez, Stanley Mesquita e Saulo Santos. TROMPETES: Fabrício Santos, Isaac Souza, Junior Santos e Cristione. TROMBONES: Joseanderson Marques, Pablo Castro, Rafael Mesquita, Tiago Costa, Maicon Nunes. PERCUSSÃO: Diego Silva, Nayark Pereira, Gabriel Dourado e Erliton Rocha

Culturas Corrente: Existe algum subsídio do governo municipal e ou até mesmo estadual? Se sim de que forma contribuem?
Jailton Souza: Este ano não tivemos apoio financeiro do município, o gestor contribuiu financeiramente como pessoa física. O projeto ainda não pleiteou recurso estadual.

Culturas Corrente: Quais as principais dificuldades de vocês?
Jailton Souza: O baixo recurso para manutenção (cachê, hospedagem, alimentação); poucas oportunidades para apresentações; consequentemente a ampliação do quadro de músicos.

Por Culturas Corrente

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

Santa Maria da Vitória: em clima carnavalesco bonecos invadem as ruas

Depois de São Félix do Coribe foi a vez de Santa Maria da Vitória receber os bonecos gigantes acompanhados de grande público
Foto por Rosa Tunes
O último sábado, 18/02, foi de muita alegria nas ruas de Santa Maria da Vitória com a chegada dos bonecos gigantes num antecipado carnaval de rua animado pela Orquestra Popular do Vale do Corrente (OPVAC), a mesma que realiza o já famoso Zé Pereira há mais de 13 anos.
Foto por Rosa Tunes
População local e visitantes estiveram nas ruas e a festa que era pra ser só o encerramento de um projeto ganhou maiores proporções com efervescência digna de um grande carnaval. Famílias inteiras se fizeram presentes, no entanto a atenção maior ficou voltada para as crianças que acompanharam encantadas e interagiram com os bonecos.

O cortejo teve início em frente ao estádio Turibão descendo a Teixeira de Freitas em direção à OCA (Oficina Cultural de Artes) onde a festa continuou com o carnaval cultural “O grito” que já acontece em seu segundo ano consecutivo. 

O projeto “Bonecos gigantes invadindo o Oeste” é uma realização do Gueto Poético - Núcleo de Bonecos Gigantes da Casa dos Bonecos de Salvador contemplado pelo Fundo de Cultura da Bahia visando ação em todo o Oeste Baiano. Hemerson Pachamama, produtor local, avaliou o evento como sendo “uma experiência inovadora que irá contribuir mais ainda com nossas produções artísticas. Ideias como essa são simplesmente especiais”.

Embora seja uma prática muito presente em carnavais de outras regiões do nordeste, Pernambuco por exemplo, os bonecos já estão na Bahia há mais de três décadas e fazem a festa no Carnaval de Salvador. Essa foi a primeira vez em que grupos e artistas do Oeste Baiano tiveram contato direto com esse tipo de produção.

O evento segue rota deixando bonequeiros formados tanto em Santa Maria da Vitória, São Félix do Coribe e cidades vizinhas. 

Por Culturas Correntes

domingo, 19 de fevereiro de 2017

Cultura foi tema de evento em Santa Maria da Vitória

Comunidade cultural se reuniu para discutir os rumos das políticas públicas de cultura; evento foi marcado por qualificado debate de fortalecimento da classe. 
Foto por Tiago Mendou
Motivados pelo tema “o que falta na cultura de Santa Maria da Vitória?” artistas, produtores, ativistas e comunidade estiveram juntos discutindo os rumos das políticas de cultura no município. 

A reunião foi uma realização do coletivo Culturas Correntes, do Setoriais de Cultura e Artes do Território da Bacia do Rio Corrente e dos alunos e alunas da Especialização em Artes e Ação Cultural da UFOB (Universidade Federal do Oeste) campus de Santa Maria da Vitória, local em que aconteceu o evento que teve início às 18h do último dia 16/02. 

Além das pessoas diretamente ligadas à cadeia produtiva da cultura estiveram presentes professores e professoras que fizeram contribuições nas discussões. 
Foto por Tiago Mendou
Na mesa teve a presença de Nonato Lopes, conselheiro estadual de cultura da Bahia; Robson Vieira do coletivo Culturas Correntes; Christiane Ramos aluna da ArtCut/UFOB e Cleudir Neves representando o colegiado do Território. 

O prefeito, Renato Leite (Renatinho), não compareceu nem justificou ausência, já o secretário de educação e cultura, Valdeci Augusto, informou sobre impossibilidade de se fazer presente. O vereador Ivanildo Leão confirmou presença, mas não compareceu; Moraezinho de Ruy e Domingão justificaram ausência, os demais não responderam ao convite. Todos foram convidados via ofício com antecedência de 8 dias. 

Na oportunidade, Cleudir Neves, contribuiu com uma explanação sobre o panorama da cultura dando enfoque na realidade do município, apresentou o atual cenário e perspectivas futuras para as políticas culturais. “O que eu quero é o sistema municipal de cultura consolidado em cada município do Território da Bacia do Rio Corrente, uma economia da cultura construída com a participação dos artistas de nosso Território. Eu quero muito mais, quero um Território rico, produtivo, sustentável... Sistema de cultura é prioridade”, avaliou Cleudir. 

No debate a fala foi franqueada e as pessoas presentes puderam dar suas contribuições nas discussões. O momento foi marcado pela consciência da classe em reconhecer a contribuição que a cultura tem dentro da economia do município o que aponta necessidade de que venha fazer parte da agenda da atual gestão. 

Fala comum entre os participantes foi a consciência do potencial cultural do município, a necessidade da solidariedade entre a classe e a gritante urgência de organização em conformidade com a consolidação do SMC (Sistema Municipal de Cultura) para que sejam asseguradas garantias necessárias como a criação do fundo municipal de cultura, já aprovado em lei estadual e municipal, para que possa receber recursos estadual, municipal e federal. 

“Essa reunião marca um momento importante uma vez que aqui conseguimos reunir artistas ligados às mais variadas linguagens, além da sociedade, isso é sinal de força. Nossa classe começa num despertar consciente e isso faz aparecer a consciência de que precisamos ativar o poder público nas demandas aqui apresentadas. Cabe a nós mostrar aos gestores o poder que a cultura tem”, avaliou Robson Vieira. 

Como continuidade das ações, foi tirada uma comissão para contribuir assessorando a atual gestão na sensibilização do gestor para pactuação do município no programa “Municípios Culturais” da Secretaria da Cultura do Estado com prazo para encerrar no dia 31 de março. 

Foi ainda estabelecido entrega, em ato público, da cópia de ata da reunião ao prefeito, secretário e vereadores. Também ficou acertado a continuidade do debate e a manutenção do fórum de discussões, pois foi entendido pelos presentes como necessário para o fortalecimentos dos fazedores de cultura do município. 

Foto do evento pode ser visto neste link

Por Culturas Corrente|

terça-feira, 14 de fevereiro de 2017

O que falta na Cultura de Santa Maria da Vitória?

Você pode contribuir com esse debate de fortalecimento e valorização da cultura em Santa Maria da Vitória

Com o propósito de debater as demandas culturais de Santa Maria da Vitória e o que pode ser feito para fomentar a produção cultural como preservação da identidade e valorização dos artistas da terra, o coletivo cultura Culturas Correntes em parceria com a classe artística, o Comitê Temático de Cultura e Artes do Território da Bacia do Rio Corrente e alunos e alunas da Especialização em Arte e Ação Cultural da Universidade Federal do Oeste da Bahia (UFOB) fará na próxima quinta-feira, dia 16 de fevereiro, uma reunião para debater o tema. 
O encontro pretende debater os problemas e as possíveis soluções para implementação eficiente de políticas culturais no município. 
O encontro será realizado na sala de eventos do campus da UFOB em Santa Maria da Vitória às 18h. Na pautas estão a cultura na ótica do governo municipal, Implementação das ações assumidas no debate e no plano de governo, encaminhamentos e discussão sobre o CPF (Conselho, Plano e Fundo) e outros assuntos que forem sugeridos na reunião. 

Os organizadores do evento convidaram o prefeito Renato Leite (PP), o Secretário de Educação e Cultura, Professor Valdeci Augusto; vereadores e demais pessoas convidadas. Assim como todas as pessoas interessadas no tema. 

O matutar acompanhará o resultado da reunião e divulgará os encaminhamentos aqui. Fiquei ligado. Mas, asseguro que melhor mesmo é participar da reunião, ao vivo e a cores. Não perca, será um importante momento para ajudar a fortalecer a identidade cultura da nossa terra. 

Compromissos assumidos pelo prefeito Renatinho Leite durante a campanha 

1 – Realizar censo cultural na cidade para identificar o que seus diversos atores culturais criam e produzem; 

2 – Fortalecer e dinamizar as ações do Fundo Municipal de Cultura, objetivando a participação dos produtores culturais da cidade; 

3 – Reestruturação do Carnaval e festas populares, com implantação do calendário de festas juninas; 

4 – Criar o Programa Municipal de Fomento às Artes em SAMAVI, objetivando apoiar iniciativas nas linguagens teatral, musical, literária, coreográfica, plástica e das culturas populares tradicionais e contemporâneas; abrangendo as diversas linguagens artísticas, com atividades voltadas para diferentes grupos (adeptos do rock, do hip-hop, das histórias em quadrinhos e do RPG, das escolas de samba, entre outros), alcançando as comunidades das regiões periféricas da cidade; 

5 – Criar um programa permanente de apoio às comunidades das escolas de marchinhas carnavalescas que podem surgir com o incentivo municipal; 

6 – Promover visitas dos alunos da rede municipal aos ateliês dos artistas da cidade e realizar oficinas no formato “ateliê aberto”, bem como exposição itinerante nas escolas de obras dos diversos artistas da cidade, com palestras e atividades desses artistas com os alunos; 

7 – Participar do Plano Nacional do Livro e Leitura, cujo objetivo é promover o livro, a leitura, a literatura e as bibliotecas; 

8 – Criar Pontos de Cultura no município, com apoio do Ministério da Cultura. 

Via Portal Matutar

sábado, 4 de fevereiro de 2017

Festa de Iemanjá é comemorada com muito axé na cidade de Santana (BA)

Santana comemora dia de Iemanjá com festa que reuniu mais de 500 pessoas em evento realizado na sede e na comunidade de Porto Novo às margens do rio Corrente.
Festa de Iemanjá na comunidade de Porto Novo município de Santana (BA); foto por Robson Vieira.
Momento de oração para entrega das oferendas; foto por Robson Vieira.
As festas de janeiro são efervescentes na Bahia, incluindo o famoso carnaval. O mês começa dedicado a Rainha do Mar, Iemanjá no sincretismo religioso para o povo de santo e Nossa Senhora dos Navegantes para a comunidade católica, com isso essa se torna umas das maiores celebrações religiosas do estado.

Em Santana (BA), nesta quinta-feira, 02/02, o povo do Terreiro Santa Bárbara, cuja responsável é a mãe de santo Dona Maria, se empenharam na realização de uma grande festa que mobilizou toda cidade, sede e comunidades rurais e demais municípios da região, e contou um público estimado em mais de 500 pessoas.

Maria Gomes da Silva, conhecida como D. Maria, mãe de santo do Terreiro Santa Bárbara em Santana (BA); foto por Robson Vieira.
O evento começou com alvorada festiva, às 5h, seguido de cortejo pela ruas da cidade se estendendo até as margens do Rio Corrente na comunidade de Porto Novo. Lá teve um momento de apresentação cultura de grupos de capoeira e entrega das oferendas. “Eu sinto muita força e muito axé, muita alegria. Foi minha saída de santo do dia de hoje data em que completo 56 anos de terreiro e festa. Se eu tiver com saúde e força quero fazer mais anos”, Dona Maria ao avaliar o evento.

O evento religioso foi, sem dúvidas, expressão de riqueza para toda região, considerando que esse tipo de manifestação tende a ser discriminado em função da intolerância religiosa. No entanto os filhos e filhas de santo deram grande exemplo de respeito e tolerância na realização dessa grande festa que já compõe o calendário religioso e cultural do nosso Território.

Reis, rezas e registros



É bíblico o dito que diz que a fé move montanhas. No caso das Folias de Santos Reis a fé move, remove e renova regiões inteiras e faz isso com melodia, ritmo, dinâmica, timbre, andamento e harmonia utilizando de vozes marcantes, belíssimos instrumentos, lindos cantos e algumas rezas até mesmo em latim, coisa rara nos dias atuais.
“Ai andar andei, ai como eu andei! E aprendi a nova lei. Alegria em nome da rainha e folia em nome de rei”. Foto por Cleudir Neves.
É assim que o ano se finda e recomeça em terras distantes lá no Oeste da Bahia, para ser específico, na cidade de Santa Maria da Vitória. 

As festividades começam em 25 de dezembro, cumprindo a tradição da visitação dos reis magos ao Menino de Belém, e se estendem até meados de janeiro com a tradicional reza que faz nova a esperança do homem e da mulher sertaneja através de votos e promessas. Se por um lado temos os atos de fé (o sagrado), no outro temos os acontecimentos ditos profanos: as festas, as bebidas, as danças, as comilanças (…), eles se completam como pão e vinho. Existem juntinhos. Ao meu ver, sagrado e profano, para esse caso específico, coexistem. A linha tênue entre um e outro é insignificante. Fato é que é motivo de celebração.

As manifestações culturais brasileiras são essencialmente belas, saltam aos olhos. Em cada canto um evento ainda mais belo. Muda de acordo a estação do ano, próprio de nossa pluralidade. Aqui em nosso torrão saboreamos o verão, um verão de quase um ano inteiro.

Folia de Reis, Reisado, ou Festa de Santos Reis (a opção de nomenclatura depende de grupo a grupo) é uma manifestação de cunho cristão-católico-religioso que se faz nas vivências das comunidades. Essa tradição, segundo a história, chega ao Brasil e se espalha, sobretudo no nordeste, por contribuição de exploradores religiosos portugueses. Agora apropriada é se faz representação cultural do povo dessa terra. Só em Santa Maria da Vitória, numa catalogação ligeira e sem muito aprofundamento, foram registrados nos dois últimos anos mais de 17 grupos de folias de Santos Reis, número expressivo. Da comunidade de Casa de Pedra à região de Açúdina se acha grupos de Folias de Santos Reis. Isso mostra que essa manifestação é parte da identidade de todo o território do Corrente, pois esse número tende a ser parecido ou quem sabe até maior em outras cidades da região.

Mas, afinal, o que isso quer dizer ou diz?

Os fatos acima gritam à todos nós, de maneira especial ao poder público e gestores culturais, que é preciso urgentemente entender e ‘valorizar’ nossas raízes culturais. Aqui não é sobre financiamento nem dinheiro que falo, é sobre a responsabilidade de ‘preservação’ da memória cultural de toda uma região. No bojo das políticas públicas de cultura as manifestações populares, como o reisado, não têm recebido a atenção que deveriam, mas isso é tema para melhor aprofundamento no futuro.
Foto por Andressa Dourado
Segundo a historiadora Helena Pignatari “um povo sem história é um povo sem memória” e eu complemento: sem história, sem memória, sem futuro e sem presente. É a isso que todos estamos fadados se ousarmos não (re)conhecer os valores presentes em nossas tradições, valores sutilmente condensados. Há que ter sensibilidade para identificá-los.

Halbwachs, sociólogo francês, ao dissertar sobre memória social diz que “a história é a compilação dos fatos que ocuparam maior lugar na memória dos homens. No entanto, lidos nos livros, ensinados e aprendidos nas escolas, os acontecimentos passados são selecionados, comparados e classificados segundo necessidades ou regras que não se impunham aos círculos dos homens que por muito tempo foram seu repositório vivo” (2013, p. 100-1).

A partir disso um questionamento: que lugar, nos livros ou nas instituições, ocupam nossa história e memória local? A seletividade nos contempla de alguma forma? Deixo para que respondam ou que ao menos pensem sobre esses questionamentos.
A ideia dos documentários

E, depois de ter rapidamente conversado sobre rezas e reisados, é hora então de falar sobre registros. Como sabemos, há várias formas de se registrar algo, mas isso depende dos recurso e tecnologias disponíveis, algumas vezes caros outras nem tanto, para alguns bastam os sentidos humanos: a mente, o olhar, o cheiro… Não há quem não tenha um cheiro que o/a faça lembrar da infância ou uma paisagem que o/a faça voltar no tempo e no espaço. A vida é também feita dessas coisas não palpáveis que existem exatamente para que a materialidade de acontecimentos, fatos e pessoas possam existir com seus significados e significantes.

Não é significativo guardar aquilo que nada significa. A nossa mente de forma autônoma trata de fazer a seleção do que é importante ou não. É assim que acontece com as nossas memórias.

Não guardar é de alguma maneira ‘perder’. Assim sendo, há os que perdem por não entender o ‘valor’ e os que perdem porque não souberam guardar. Consequentemente é importante decidir a qual desses dois grupos queremos fazer parte.

Ao contrário da memória de “cal e pedra” que se torna lembrança calcificada (por exemplo: um prédio, uma ponte, uma casa…) as manifestações e saberes imateriais possuem outra dinâmica, daí a necessidade do registro e do reconhecimento, coisa que os órgãos gestores de cultura raramente fizeram em nossa região. Talvez isso explica o ‘desaparecimento’ de muitos eventos tradicionais considerados importantes dos quais restam tão somente o dolorido saudosismo.
Cleudir Neves foto por Andressa Dourado
Foi nesse sentido, de maneira comprometida e responsável, que surgiu o projeto “Histórias de Santos Reis”, do qual tive imenso prazer em compartilhar autoria com o respeitável professor e pesquisador Cleudir Neves. Na ocasião dos dias 20 e 21 de janeiro do corrente ano fizemos o lançamento de dois vídeos documentários sobre as Folias de Santos Reis cujo protagonismo ficou por conta das comunidades de Capim Grosso e Piengo. Talvez tudo isso seja algo muito pouco e é, porém o suficiente para que duas importantes manifestações culturais de nossa cidade sejam, de alguma forma, resguardadas e registradas passando a se materializar enquanto memória social.
Robson Vieira foto por Andressa Dourado.
Quanto ao evento dividiu-se em dois principais momentos, o primeiro de pesquisa e contato com as comunidades citadas onde através de entrevista vivenciamos toda cosmologia e importância desses momentos de celebrações; e o segundo foi o prazer da devolução desse material editado (sistematizado), primeiro para as comunidades lá no meio rural e depois para toda sociedade em evento realizado estrategicamente no campus da Universidade Federal do Oeste da Bahia reconhecendo ser este o lugar da pesquisa e de sociabilização do saberes.

Por fim, nós do Coletivo Culturas Correntes, simbolicamente e por meio de certificado, atestamos a Folia de Reis de Rumão da Comunidade de Capim Grosso, a Folia de Reis da Comunidade de Piengo, o Reis de São Francisco de São Félix do Coribe, os grupos deReis de Guarany, Reis de Maria e Reisado Sá Ana de Santa Maria da Vitória como patrimônios da cultura imaterial do Território da Bacia do Rio Corrente.

Deu se então os dois primeiros passos: (re)conhecimento e registros. Que outros possam ser dados não só por nós na condição de pesquisadores, mas por toda a comunidade como forma de manutenção de nossa história do passado e do presente e também pelas instituições de ensino como responsáveis pela provocação de saberes e pelo poder público local cumprindo com a sua obrigação constitucional de serem provedores dos direitos culturais.

E viva Santos Reis! Viva os foliões e folionas!

Viva! Viva! Viva!

PROJETO BONECOS GIGANTES INVADINDO O OESTE CHEGA A SÃO FÉLIX DO CORIBE

Teve início na manhã de 02 de fevereiro a primeira Oficina de Confecção e Manipulação de Bonecos Gigantes do Projeto BONECOS GIGANTES INVADINDO O OESTE, para os membros de grupos e companhias de teatro, no município de São Félix do Coribe no Território da Bacia do Rio Corrente, no oeste baiano.

As oficinas visam iniciar e estimular um processo de pesquisa dos membros dos grupos e companhias de teatro na área de confecção e manipulação de bonecos gigantes no fazer teatral, repassando as técnicas e possibilidade para composição de personagens, espetáculos e performances, partindo do conhecimento da trajetória dos bonecões no estado da Bahia, os mestres, os grupos e artistas que já atuam com os bonecões no nosso estado.

As oficinas são ministradas pelos bonequeiros Jorge Pereira, que é o coordenador do Núcleo de Bonecos Gigantes do Gueto Poético, e Neto dos Bonecos, que já atuou no Grupo de Teatro de Bonecos Mamulengo (do Mestre Elias Bonfim) e desenvolve um trabalho próprio. Ambos com vasta experiência na confecção e manipulação de bonecões, tendo participado de momentos importantes da cena dos bonecões na Bahia.

As atividades da Oficina vão até o domingo, nos turnos da manhã e da tarde e no sábado (04/01), a partir das 17h, será realizado o Cortejo de Bonecões pelas ruas do centro de São Félix do Coribe, saindo da Praça Terezinha Cardoso ao Som da Orquestra Popular Vale do Corrente a Banda do Zé Pereira de Santa maria da Vitória-Bahia, mais carro de som, artistas, grupos locais e de outras cidades e toda população em geral.

O projeto foi contemplado no Edital 22/2016 – Setorial de Teatro 2016 e conta com o apoio financeiro do Fundo de Cultura da Bahia – FCBA, Fundação Cultural do Estado da Bahia – FUNCEB, Secretaria da Fazenda, Secretaria de Cultura e Governo do Estado da Bahia.

Expediente:

Oficina de Confecção e Manipulação de Bonecos Gigantes e Cortejo de Bonecões 
Data: 02 a 05 de Fevereiro/2017, 08 às 19h.
Local: Escola Municipal Leônidas Araújo Castro - São Félix do Coribe.

Realização: Núcleo de Bonecos Gigantes Gueto Poético/Projeto BONECOS GIGANTES INVADINDO O OESTE

Produção: Hemerson Pachamama

Apoio Financeiro: FCBA/FUNCEB/SEFAZ/SECULT/GOVERNO DO ESTADO DA BAHIA

Apoio Cultural: Secretaria Municipal de Educação, Cultura, Esporte e Lazer e Prefeitura Municipal de São Félix do Coribe e do Grupo Arte em Movimento.

Contatos/Informações: (071) 98703 0676 (Jorge Pereira) (71) 98856 6674 (Neto dos Bonecos) (77) 991486045 (Hemerson Pachamama)