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Jairo Rodrigues (Foto por: Rosa Tunes). |
“A memória é um elemento essencial do que se costuma chamar identidade, individual ou coletiva, cuja busca é uma das atividades fundamentais dos indivíduos e das sociedades de hoje, na febre e na angústia”.
Jacques Le Goff
Considerando a memória como um produto social dotada da extraordinária capacidade de conferir sentido ao presente, é possível afirmar que ela é a principal matéria prima que compõe as experimentações da nossa vida, e por sorte, temos alguns sujeitos que atribuem a si, normalmente com recursos próprios e algumas dificuldades, a difícil e prazerosa missão de preservar um acervo de pequeno ou médio porte na ausência de espaços públicos que cumpram esta função.
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Foto de pintura em tela de autoria de Jairo Rodrigues. (Foto por Rosa Tunes). |
Normalmente estes guardiões tem o propósito de conservar, manter e democratizar o acesso à memória local, com o objetivo de contribuir na educação do patrimônio material e imaterial da região, fortalecendo o sentimento de pertencimento através da problematização das complexas relações entre o passado e o presente.
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Jairo Rodrigues em montagem de exposição sobre as obras de Guarany. (Foto por Purky) |
É consenso entre os interessados que o Mestre Guarany figura como a maior expressão artística de Santa Maria da Vitória. Sua arte popular é conhecida e admirada pelo mundo, sobretudo, pelo facínio místico que as suas carrancas expressam. Produtor de uma estética extremamente particular, o Mestre Guarany revela o universo simbólico e cultural do imaginário dos povos ribeirinhos do Vale do São Francisco, obliterado pela predominância das embarcações a vapor na segunda metade do século XX.
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Jairo Rodrigues em montagem de exposição sobre as obras de Guarany. (Foto por Purky) |
Sua primeira carranca foi produzida em 1901 com o propósito de produzir figuras assombrosas para espantar as criaturas místicas que por ventura pudesse trazer perigo para as embarcações, em 1940 encerra o ciclo genuino de produção de carrancas para as proas das embarcações do Rio São Francisco e inicia a sua fase artística propriamente dita. Até este momento foram produzidas cerca de 80 peças.
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Jairo Rodrigues em montagem de exposição sobre as obras de Guarany. (Foto por Purky) |
A década de 1960 foi o período de revelação do potencial artístico do artista. Em 1968 o Mestre Guarany recebe o título de Membro Honorário da Academia Brasileira de Belas artes, nos anos 70 participa do II Festac – o impacto da cultura africana no Brasil em Lagos na Nigéria, na década de 80 o projeto “Guarany 80 anos de arte” expões suas carrancas em vários Estados: Museu da Marinha do Brasil no Rio de Janeiro, MASP - Museu de Arte de São Paulo, Teatro Castro Alves em Salvador, Teatro Municipal de Brasília, foi homenagiado por Carlos Drummond de Andrade com o poema Centenário.
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Jairo Rodrigues ao lado de Guarany. (Foto do acervo pessoal) |
Diversos trabalhos cientificos foram desenvolvidos para conhecer melhor o universo artístico do escultor, entre eles encontram-se: Carrancas do São Francisco – Paulo Pardal. Ministério da Marinha – Rio de Janeiro; Navegantes da Integração de Zanone Neves – UFMG; A Época de Ouro do Corrente de Avelino Fernandes de Miranda – UCG; A Mão Afrobrasileira de Emanoel Araújo – Ministério da Cultura – Brasília; O Rio São Francisco – Codevasf e Mercedes Benz; tem obras no Museu do México
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Jairo Rodrigues. (Foto por: Rosa Tunes) |
Jairo Rodrigues, artista plástico, professor de História e Arte, é também, guardião do mais completo acervo de que se tem registro sobre o Mestre Guarany. Há trinta anos, o Artista “garimpa” e conserva, com dedicação e zelo paternal, uma vez que o próprio Guarany e a sua família o escolheu como guardião, um acervo documental diversificado sobre a vida e obra do lendário Carranqueiro. Seu acervo é composto de documentos primários, como certidões, fotografias, revistas, jornais, assim como documentos secundários, livros de arte, teses e dissertações produzidas sobre a arte e a vida do Mestre Guarany.
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Jairo Rodrigues ao lado de tela de Guarany e da carranca Bitazaro. (Foto por: Rosa Tunes) |
A carranca Bitazaro também faz parte do seu acervo, foi produzida por Guarany na década de sessenta. Jairo também conserva praticamente toda oficina e as ferramentas usadas pelo carranqueiro até o final da sua vida em 1985 aos 103 anos. Guarany tem sido fonte de inspiração para várias telas pintadas por Jairo, tanto nas representações das embarcações e carrancas, como de telas que figura o próprio carranqueiro.
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Jairo Rodrigues ao lado da carranca Bitazaro. (Foto por: Rosa Tunes) |
Entretanto, não podemos deixar de mencionar o vasto conhecimento que o professor detem sobre o tema, primeiro pelo fato de ter vivido e conhecido de perto o velho carranqueiro. Desta forma, o Professor e artista Jairo Rodrigues pode e deve ser batizado como guardião da memória particular do Mestre Guarany, assim como da memória coletiva da arte popular do vale do São Francisco.
Washington Andrade – historiador e professor da rede Estadual de Educação da Bahia.
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