sábado, 16 de agosto de 2014

Jairo Rodrigues, guardião da memória de Francisco Biquiba Dy Lafuente Guarany

Jairo Rodrigues (Foto por: Rosa Tunes).
“A memória é um elemento essencial do que se costuma chamar identidade, individual ou coletiva, cuja busca é uma das atividades fundamentais dos indivíduos e das sociedades de hoje, na febre e na angústia”. 
Jacques Le Goff 


Considerando a memória como um produto social dotada da extraordinária capacidade de conferir sentido ao presente, é possível afirmar que ela é a principal matéria prima que compõe as experimentações da nossa vida, e por sorte, temos alguns sujeitos que atribuem a si, normalmente com recursos próprios e algumas dificuldades, a difícil e prazerosa missão de preservar um acervo de pequeno ou médio porte na ausência de espaços públicos que cumpram esta função.
Foto de pintura em tela de autoria de Jairo Rodrigues.
(Foto por Rosa Tunes).
Normalmente estes guardiões tem o propósito de conservar, manter e democratizar o acesso à memória local, com o objetivo de contribuir na educação do patrimônio material e imaterial da região, fortalecendo o sentimento de pertencimento através da problematização das complexas relações entre o passado e o presente.
Jairo Rodrigues em montagem de exposição sobre as obras de Guarany.
(Foto por Purky)
É consenso entre os interessados que o Mestre Guarany figura como a maior expressão artística de Santa Maria da Vitória. Sua arte popular é conhecida e admirada pelo mundo, sobretudo, pelo facínio místico que as suas carrancas expressam. Produtor de uma estética extremamente particular, o Mestre Guarany revela o universo simbólico e cultural do imaginário dos povos ribeirinhos do Vale do São Francisco, obliterado pela predominância das embarcações a vapor na segunda metade do século XX. 
Jairo Rodrigues em montagem de exposição sobre as obras de Guarany.
(Foto por Purky)
Sua primeira carranca foi produzida em 1901 com o propósito de produzir figuras assombrosas para espantar as criaturas místicas que por ventura pudesse trazer perigo para as embarcações, em 1940 encerra o ciclo genuino de produção de carrancas para as proas das embarcações do Rio São Francisco e inicia a sua fase artística propriamente dita. Até este momento foram produzidas cerca de 80 peças.
Jairo Rodrigues em montagem de exposição sobre as obras de Guarany.
(Foto por Purky)
A década de 1960 foi o período de revelação do potencial artístico do artista. Em 1968 o Mestre Guarany recebe o título de Membro Honorário da Academia Brasileira de Belas artes, nos anos 70 participa do II Festac – o impacto da cultura africana no Brasil em Lagos na Nigéria, na década de 80 o projeto “Guarany 80 anos de arte” expões suas carrancas em vários Estados: Museu da Marinha do Brasil no Rio de Janeiro, MASP - Museu de Arte de São Paulo, Teatro Castro Alves em Salvador, Teatro Municipal de Brasília, foi homenagiado por Carlos Drummond de Andrade com o poema Centenário.
Jairo Rodrigues ao lado de Guarany.
(Foto do acervo pessoal)
Diversos trabalhos cientificos foram desenvolvidos para conhecer melhor o universo artístico do escultor, entre eles encontram-se: Carrancas do São Francisco – Paulo Pardal. Ministério da Marinha – Rio de Janeiro; Navegantes da Integração de Zanone Neves – UFMG; A Época de Ouro do Corrente de Avelino Fernandes de Miranda – UCG; A Mão Afrobrasileira de Emanoel Araújo – Ministério da Cultura – Brasília; O Rio São Francisco – Codevasf e Mercedes Benz; tem obras no Museu do México
Jairo Rodrigues.
(Foto por: Rosa Tunes)
Jairo Rodrigues, artista plástico, professor de História e Arte, é também, guardião do mais completo acervo de que se tem registro sobre o Mestre Guarany. Há trinta anos, o Artista “garimpa” e conserva, com dedicação e zelo paternal, uma vez que o próprio Guarany e a sua família o escolheu como guardião, um acervo documental diversificado sobre a vida e obra do lendário Carranqueiro. Seu acervo é composto de documentos primários, como certidões, fotografias, revistas, jornais, assim como documentos secundários, livros de arte, teses e dissertações produzidas sobre a arte e a vida do Mestre Guarany. 
Jairo Rodrigues ao lado de tela de Guarany e da carranca Bitazaro.
(Foto por: Rosa Tunes)
A carranca Bitazaro também faz parte do seu acervo, foi produzida por Guarany na década de sessenta. Jairo também conserva praticamente toda oficina e as ferramentas usadas pelo carranqueiro até o final da sua vida em 1985 aos 103 anos. Guarany tem sido fonte de inspiração para várias telas pintadas por Jairo, tanto nas representações das embarcações e carrancas, como de telas que figura o próprio carranqueiro.
Jairo Rodrigues ao lado da carranca Bitazaro.
(Foto por: Rosa Tunes)
Entretanto, não podemos deixar de mencionar o vasto conhecimento que o professor detem sobre o tema, primeiro pelo fato de ter vivido e conhecido de perto o velho carranqueiro. Desta forma, o Professor e artista Jairo Rodrigues pode e deve ser batizado como guardião da memória particular do Mestre Guarany, assim como da memória coletiva da arte popular do vale do São Francisco.

Washington Andrade – historiador e professor da rede Estadual de Educação da Bahia.

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